Tônia Carrero acaba de completar, em agosto, 87 anos. Do fim da década de 1940 até hoje, atuou em 54 peças, 19 filmes, 15 novelas e 9 programas especiais de TV.
A atriz casou três vezes e teve um único filho, que lhe deu quatro netos e cinco bisnetos.
“Sempre casei com quem eu quis, mas nunca deu certo”.
Sobre o primeiro marido, Carlos Arthur Thiré: “Era um jovem rebelde, filho de desquitados, civil. Um artista desesperado que num redemoinho envolveu-me, formou-reformou minha cabeça”.
Sobre o segundo marido, o italiano Adolfo Celi: “Foi uma paixão atroz, e como toda paixão acabou um dia. O homem mais importante da minha vida, por ser homem de teatro”.
Sobre o terceiro marido, o empresário César Thedim: “Ele era muito divertido, maravilhoso, não como companheiro. Melhor dos amigos e pior dos maridos”.
Maria Antonietta Portocarrero nasceu em 23 de agosto de 1922, com cabelos castanhos, nariz chatinho, a boca pequenininha. Ainda na maternidade ganhou uma touquinha de filó bordada, uma camisola de opala cor-de-rosa, uma fronha de pongée. Sorriu pela primeira vez no dia 29 de setembro e falou a primeira palavra – mamãe – no dia 12 de fevereiro de 1923.
Tudo isso está carinhosamente registrado no Livro do Bebê, feito pela sua mãe, Zilda de Farias Portocarrero. Falta um dado, porém: o dia em que Mariinha, como era chamada por todos da família, descobriu que não ia ser igual às outras, e que estava fadada a ter bem mais do que uma vida reta e sem sobressaltos, que sua mãe idealizara para ela.
Seu pai, Hermenegildo Portocarrero, chamado por todos de Barão, em função de um título dado a sua família algumas gerações anteriores, dizia a todos que havia pressentido que a única filha seria loura de olho azul, uma princesa.
E realmente ela ficou absolutamente loura no primeiro ano de vida, lindos cachinhos que emolduravam o rosto perfeito desde a infância. Todos os dias, Barão dizia à pequena Mariinha: você é minha rainha, minha dona, só você manda na casa.
Sua mãe, apesar da ternura com que fez o Livro do Bebê, era severa. Criada pela avó, por ter perdido os pais muito cedo, Zilda sempre foi “uma pessoa seca, sem carinho na voz” – relembra Tônia. Queria que a filha tivesse uma vida como a sua, se casasse, tivesse filhos e cuidasse do lar. Heraldo e Humberto, seus outros filhos, que seriam militares como o pai, deviam prestar atenção e zelar pela segurança e honra de Mariinha, a caçulinha da família.
Crítica ao extremo, Zilda foi a primeira a observar: Não tira um retrato natural esta menina! Mariinha gostava de aparecer desde pequena, prenunciando a estrela que iria se tornar poucos anos depois. Embora soubesse que, para ser amada, precisava ser boazinha, viver dentro dos moldes deles, entrar na bitola, no jogo combinado, sabia também que algo a impelia para voos mais longínquos, mesmo que solitários.
Com a mãe, Mariinha de fato nunca se reconciliou, digamos que relevou, perdoou, mas não esqueceu. Mariinha era além do seu tempo. Zilda, aquém.
“Minha mãe me fez sofrer muito, ela foi muito dura comigo. Quando estava velha, eu ia visitá-la, levava umas flores e ela dizia: ‘você é tão gentil comigo’. E eu respondia: ‘eu sou sua filha’. Ela dizia que nunca havia tido uma filha, só filhos. Não me reconhecia, mas, na verdade, acho que ela jamais me conheceu”.
Do pai, guarda sempre uma doce recordação e admiração, quase uma paixão. Militar, engenheiro, diretor do Colégio Militar por muitos anos, Barão tinha um outro lado: amante do teatro, era sempre saudado ao ser visto na primeira fila das platéias cariocas. (…)
ônia estudou no Instituto de Educação e aos 14 anos começou a namorar firme com “um jovem rebelde, filho de desquitados, civil. Um artista desesperado que num redemoinho envolveu-me, formou-reformou minha cabeça”. Seu nome: Carlos Arthur Thiré, 19 anos. No primeiro dia em que foi na sua casa, Carlos levou um patinete de presente, tão menina que achava ser a namorada. Três anos depois se casaram. E, como Tônia frisa em seu livro de memórias O Monstro dos Olhos Azuis:… não foram felizes para sempre. E complementa: “Acho que casei porque estava muito atraída por ele, e porque queria fugir da minha família”.
Já casada, em 1941, formou-se em Educação Física. Dois anos depois, nascia seu primeiro e único filho, Cecil Thiré. (…)
Um dia, Mariinha fez as malas, deixou Cecil com a Bá Luiza – que havia sido também a sua babá – e com Zilda. E foi com Carlos para Paris estudar teatro. E aí sua vida mudou.
Virou realmente Tônia Carrero, após ter aulas com os maiores atores do mundo, dentre eles Jean-Louis Barrault. O nome artístico nascera antes, desde sua pequena participação no primeiro filme,Querida Suzana. Mas depois da temporada em Paris, Tônia virou mais Tônia.
Mulher de muita fibra, talento, beleza, que despertava paixões. O escritor Rubem Braga, por exemplo, apaixonou-se perdidamente por Tônia nessa mesma temporada parisiense, quando seu casamento com Carlos já se deteriorava.
Outra paixão, já no Brasil: Paulo Autran.
Quando o conheci, me apaixonei completamente. Cecil era bem pequenininho. Achava Paulo um talento para o teatro, mas inventei de fazer uma peça com ele só porque queria ficar perto dele. Paulo era advogado e não queria largar a profissão. Pediu um salário absurdo e deixei de receber só para ficar perto dele, não ganhei um tostão. Com o tempo, a paixão foi acabando, mas o carinho, o respeito, a cumplicidade no palco, a amizade permaneceram até o fim”.
Foi aí que Tônia decidiu tomar o lugar de Cacilda Becker. Onde? No coração, mente e vida de Adolfo Celi, italiano que veio para o Brasil em 1949 para ser o primeiro diretor artístico do TBC. Celi revolucionou o teatro brasileiro e a vida de Tônia. Em 1957, levada pela mão do Barão e sem a presença de Zilda, Tônia e Celi se casaram no Bispo de Maura, que na época oficializava uniões, que a lei e a Igreja Católica não permitiam.
“(…) A minha admiração por Celi era e sempre será infinita”.
Seu terceiro marido foi o empresário César Thedim. Cecil desafiou Tônia: “esse casamento não vai dar certo, você jamais vai ser aceita pelo meio dele”. Tônia, que até hoje não pode ver um desafio que cai dentro, resolveu investir na relação com o homem rico, um típico playboy dos anos 50. (…)
Tônia confessa que nesse terceiro casamento ela buscava outra coisa:
“Eu queria aprender a colocar uma mesa bem, usar o copo certo, não sabia nada e nem era indispensável saber, mas naquela época eu sentia que precisava viver isso. Virei uma dondoca durante o meu casamento com César. Logo eu, que vinha de uma família classe média, filha de uma dona-de-casa e de um militar. E contrariando o Cecil fui muito bem aceita por todos do meio de César”.
Tônia usa até hoje o sobrenome Thedim, pois jamais se separou legalmente de César, que morreu em 2000. (…)
Amando com paixão, ela segue a sua vida até hoje. “Tudo na minha vida aconteceu em decorrência de paixões. Sempre quis viver longe da racionalidade. A paixão me empurrou, me fez fazer coisas e por isso não me arrependo de nada”.
Referências:
Texto de Ruth de Aquino, extraído do site: http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2009/09/09/tonia-carrero-aos-87-anos-movida-pela-paixao/ acessado em 21/12/2011
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